Discurso para a solenidade de formatura de Direito, que aconteceu dia 30/01/2013 no Hangar. Momento muito especial em que tive a oportunidade de ser o orador das turmas, a quem agradeço a cada um pela credibilidade e pela inspiração fraterna e sábia:
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Magnífico Reitor Dr. João Paulo do Valle
Mendes, do Centro Universitário do Estado do Pará;
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Na sua pessoa saúdo todos componentes da
mesa.
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Professor Liandro Faro, paraninfo desta
solenidade, na pessoa de quem saúdo todos os mestres aqui presentes.;
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Senhores convidados especiais;
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Colaboradores do CESUPA;
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Colegas graduandos;
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Familiares aqui presentes;
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Senhoras e senhores,
Há
cinco anos ingressamos na Universidade que nos chamava a trilhar o caminho das
pedras. As portas abertas com um “seja bem vindo” sorridente dos funcionários
não era suficientemente esclarecedor sobre o que iríamos encontrar, mas um
sentimento mútuo nos envolvia e nos empolgava a conhecer as cadeiras do curso
de Direito.
Hoje,
após esses maravilhosos anos, chegamos aos portões para o sucesso, para o serviço
à comunidade, enfim, para a felicidade, que começam a abrir, com um rangido
típico de grades pouco utilizadas ou há muito esquecidas. Dessa vez,
entretanto, conseguimos enxergar o que há do outro lado.
É
um mundo desafiador: mistura brincadeiras infantis com agressões morais; homens
continuam sendo maltratados pelos latifundiários em ritmo de trabalho escravo;
as mulheres recebem punições físicas por quem deveria lhes garantir proteção e
amor; as cidades possuem belíssimas habitações e deterioram qualquer habitat
além de suas janelas; textos enormes são compilados na esperança de trazer
ordem, e acabam aumentando o caos; as noções de lar e prisões se confundem; o
preconceito exclama onipresença e onipotência; os deuses não brigam mais, pois
possuem exércitos numerosos para guerrearem em seu nome; os velhos de Brasília
debocham da Constituição da República Federativa do Brasil; e o salário óóó...
tanto cinza embaçando nossa visão traz reflexões sobre que Azul foi visto por
Yuri Gagarin, há, aproximadamente, cinco décadas.
As
violências contra o planeta se manifestam pela poluição crescente, não só de
dejetos físicos, mas pela pobreza, pela miséria humana e pela indiferença do
ser humano às outras formas de vida, seja o seu próximo, os animais ou as
plantas. Será que precisamos todo ano de catástrofes naturais para nos lembrar
de que marginalizar parte da população trará efeitos danosos à coletividade? Diria
Raul Seixas, com seus anos de experiência, que Buliram muito com o planeta / E o planeta como um cachorro eu vejo /
Se ele já não aguenta mais as pulgas / Se livra delas num sacolejo.
Nesta
desafiante jornada existiram diversos tropeços, pois são inevitáveis em uma
longa caminhada.
Em
algum momento chegamos até a desacreditar na justiça impávida, sentada
majestosamente a nos observar; acomodar-se em um canto era o melhor convite; as
provas da faculdade tiraram noites de sono, trouxeram preocupação, levaram
muitos cabelos embora; uma nota vermelha piscava como um alerta sobre o papel
do estudante e dos professores na academia.
As
lágrimas de pesar se tornavam a melhor companhia, como se fossem lavar as
angústias e carregá-las para bem longe com a fúria de uma correnteza.
Bons
amigos e parentes queridos foram para algum outro lugar e nos deixaram sem seus
afagos, apertos de mão, abraços para nos guiar pela melhor rota, seguimos em
frente com a certeza de que a felicidade e os ensinamentos dos entes queridos
são os maiores faróis a nos guiar mentalmente nas noites mais escuras.
Nesse
mesmo tempo, amizades sólidas e verdadeiras foram formadas. Anjos que foram
colocados em um só local, para termos uma segunda família, aquela que nós
escolhemos, sempre pronta ao apoio mútuo, à solidariedade com o próximo e
dispostos a uma xícara de café para intensificar os estudos ou um brinde ébrio
para rir frouxamente.
Meu
caro amigo, encantaria Chico Buarque, “eu não pretendo provocar / Nem atiçar
suas saudades / Mas acontece que não posso me furtar / A lhe contar as
novidades” (Chico Buarque – meu caro amigo)
Aqueles
portões enferrujados começam a se estreitar para nossa passagem. Mas continuamos
encarando-o com o olhar curioso de uma criança, a força de um jovem, e a
sabedoria de nossos mestres! Se precisamos de mais coragem, façamos um pouco
mais de retrospectiva ao que nos trouxe aqui...
As
olheiras das noites de estudo foram recompensadas com um saber privilegiado; o
caminhar foi abençoado pela mão amiga que nos carregava ou empurrava para
frente; conhecemos pessoas únicas, que não sairão de nossa mente jamais; vimos
que existe amor manifestando-se de diversas maneiras nos locais mais
imprevisíveis; criamos a percepção de que a miséria pode ser combatida com
simples atos; ganhamos um sorriso de quem necessitava de um atendimento, de uma
conversa esclarecedora.
Como
é bom estudar Direito, esta frondosa árvore, de imensas galharia, cujos intrincados
ramos formam as variadas classificações das disciplinas da matéria jurídica
exigindo, assim, o maior cuidado para destrinçar-se separadamente os galhos do copado
vegetal. À sua sombra amiga se abrigam os indivíduos, povos, e nações de
consciência jurídica, confiantes do agasalho e segurança que lhes proporciona a
grande árvore do Direito!
A
Justiça por sua vez, não significa só a conformidade com o Direito positivado, porquanto
este é obra do homem, ao passo que a justiça é virtude, não escrita, mas
sentida, inata, independente dos códigos.
Carregamos
conosco a responsabilidade por um meio ambiente sadio, que exclui a visão
típica da Guerra Fria em que só pode haver um vencedor: bom ou mau, e passamos
a adotar em Políticas Públicas e nos atos civis de cidadãos de bem uma
realidade economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente
equilibrada.
Lembremos
de efetivar a justiça às nossas crianças, e de trazer dignidade aos idosos.
Trabalhemos incansavelmente para que as gerações futuras gozem da felicidade e
das benesses que nos foi proporcionada.
Utilizemos
com sabedoria suprema os avanços na área da tecnologia, com o uso da
informática e dos processos eletrônicos, com o intuito de agilizar o andamento
processual, satisfazendo os anseios sociais... e não como forma de transformar
uma pasta física em algo virtual para esconder mais fácil em uma pasta em algum
disco rígido que será corroído pelos vírus da burocracia e da inércia humana.
Enalteçamos
os julgamentos sérios a todos os cidadãos brasileiros e defenestremos todas
formas de corrupção!
Quem viu a Constituição Federal sendo jogada
no lixo, levante imediatamente de suas cadeiras e reanime o espírito democrático
desse país, saliente a honra do brasileiro, retire a venda que esconde o rosto
envergonhado da Deusa da Justiça para que todos sejam iguais perante a lei, e a
cor branca seja símbolo de paz, e não dos colarinhos que emolduram aqueles
senhores feudais. Que país é este, senhores?
Caso não queiram levantar a voz, sentem-se, e
paguem seus impostos como um bom cidadão que o governo almeja. Meus caros,
relembro Gonzaguinha, e relembro a vocês:
É a
gente não tem cara de panaca / a gente não tem jeito de babaca /
a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela.
a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela.
Que daqui em diante toda lei seja
interpretada a partir da nossa Constituição! E que cada decisão escolhida, cada
rumo que iremos tomar seja em busca da felicidade, do bem-estar, do amor
fraterno e da esperança de dias realmente justos.
Muito obrigado!
Leonardo Cunha Santa Brígida – 30/01/2013