quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Noite de Formatura. Discurso solenidade.


Discurso para a solenidade de formatura de Direito, que aconteceu dia 30/01/2013 no Hangar. Momento muito especial em que tive a oportunidade de ser o orador das turmas, a quem agradeço a cada um pela credibilidade e pela inspiração fraterna e sábia:


·         Magnífico Reitor Dr. João Paulo do Valle Mendes, do Centro Universitário do Estado do Pará;
·         Na sua pessoa saúdo todos componentes da mesa.
·         Professor Liandro Faro, paraninfo desta solenidade, na pessoa de quem saúdo todos os mestres aqui presentes.;
·         Senhores convidados especiais;
·         Colaboradores do CESUPA;
·         Colegas graduandos;
·         Familiares aqui presentes;
·         Senhoras e senhores,

Há cinco anos ingressamos na Universidade que nos chamava a trilhar o caminho das pedras. As portas abertas com um “seja bem vindo” sorridente dos funcionários não era suficientemente esclarecedor sobre o que iríamos encontrar, mas um sentimento mútuo nos envolvia e nos empolgava a conhecer as cadeiras do curso de Direito.

Hoje, após esses maravilhosos anos, chegamos aos portões para o sucesso, para o serviço à comunidade, enfim, para a felicidade, que começam a abrir, com um rangido típico de grades pouco utilizadas ou há muito esquecidas. Dessa vez, entretanto, conseguimos enxergar o que há do outro lado.

É um mundo desafiador: mistura brincadeiras infantis com agressões morais; homens continuam sendo maltratados pelos latifundiários em ritmo de trabalho escravo; as mulheres recebem punições físicas por quem deveria lhes garantir proteção e amor; as cidades possuem belíssimas habitações e deterioram qualquer habitat além de suas janelas; textos enormes são compilados na esperança de trazer ordem, e acabam aumentando o caos; as noções de lar e prisões se confundem; o preconceito exclama onipresença e onipotência; os deuses não brigam mais, pois possuem exércitos numerosos para guerrearem em seu nome; os velhos de Brasília debocham da Constituição da República Federativa do Brasil; e o salário óóó... tanto cinza embaçando nossa visão traz reflexões sobre que Azul foi visto por Yuri Gagarin, há, aproximadamente, cinco décadas.

As violências contra o planeta se manifestam pela poluição crescente, não só de dejetos físicos, mas pela pobreza, pela miséria humana e pela indiferença do ser humano às outras formas de vida, seja o seu próximo, os animais ou as plantas. Será que precisamos todo ano de catástrofes naturais para nos lembrar de que marginalizar parte da população trará efeitos danosos à coletividade? Diria Raul Seixas, com seus anos de experiência, que Buliram muito com o planeta / E o planeta como um cachorro eu vejo / Se ele já não aguenta mais as pulgas / Se livra delas num sacolejo.

Nesta desafiante jornada existiram diversos tropeços, pois são inevitáveis em uma longa caminhada.

Em algum momento chegamos até a desacreditar na justiça impávida, sentada majestosamente a nos observar; acomodar-se em um canto era o melhor convite; as provas da faculdade tiraram noites de sono, trouxeram preocupação, levaram muitos cabelos embora; uma nota vermelha piscava como um alerta sobre o papel do estudante e dos professores na academia.

As lágrimas de pesar se tornavam a melhor companhia, como se fossem lavar as angústias e carregá-las para bem longe com a fúria de uma correnteza.

Bons amigos e parentes queridos foram para algum outro lugar e nos deixaram sem seus afagos, apertos de mão, abraços para nos guiar pela melhor rota, seguimos em frente com a certeza de que a felicidade e os ensinamentos dos entes queridos são os maiores faróis a nos guiar mentalmente nas noites mais escuras.

Nesse mesmo tempo, amizades sólidas e verdadeiras foram formadas. Anjos que foram colocados em um só local, para termos uma segunda família, aquela que nós escolhemos, sempre pronta ao apoio mútuo, à solidariedade com o próximo e dispostos a uma xícara de café para intensificar os estudos ou um brinde ébrio para rir frouxamente.

Meu caro amigo, encantaria Chico Buarque, “eu não pretendo provocar / Nem atiçar suas saudades / Mas acontece que não posso me furtar / A lhe contar as novidades” (Chico Buarque – meu caro amigo)

Aqueles portões enferrujados começam a se estreitar para nossa passagem. Mas continuamos encarando-o com o olhar curioso de uma criança, a força de um jovem, e a sabedoria de nossos mestres! Se precisamos de mais coragem, façamos um pouco mais de retrospectiva ao que nos trouxe aqui...

As olheiras das noites de estudo foram recompensadas com um saber privilegiado; o caminhar foi abençoado pela mão amiga que nos carregava ou empurrava para frente; conhecemos pessoas únicas, que não sairão de nossa mente jamais; vimos que existe amor manifestando-se de diversas maneiras nos locais mais imprevisíveis; criamos a percepção de que a miséria pode ser combatida com simples atos; ganhamos um sorriso de quem necessitava de um atendimento, de uma conversa esclarecedora.

Como é bom estudar Direito, esta frondosa árvore, de imensas galharia, cujos intrincados ramos formam as variadas classificações das disciplinas da matéria jurídica exigindo, assim, o maior cuidado para destrinçar-se separadamente os galhos do copado vegetal. À sua sombra amiga se abrigam os indivíduos, povos, e nações de consciência jurídica, confiantes do agasalho e segurança que lhes proporciona a grande árvore do Direito!

A Justiça por sua vez, não significa só a conformidade com o Direito positivado, porquanto este é obra do homem, ao passo que a justiça é virtude, não escrita, mas sentida, inata, independente dos códigos.

Carregamos conosco a responsabilidade por um meio ambiente sadio, que exclui a visão típica da Guerra Fria em que só pode haver um vencedor: bom ou mau, e passamos a adotar em Políticas Públicas e nos atos civis de cidadãos de bem uma realidade economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente equilibrada.

Lembremos de efetivar a justiça às nossas crianças, e de trazer dignidade aos idosos. Trabalhemos incansavelmente para que as gerações futuras gozem da felicidade e das benesses que nos foi proporcionada.

Utilizemos com sabedoria suprema os avanços na área da tecnologia, com o uso da informática e dos processos eletrônicos, com o intuito de agilizar o andamento processual, satisfazendo os anseios sociais... e não como forma de transformar uma pasta física em algo virtual para esconder mais fácil em uma pasta em algum disco rígido que será corroído pelos vírus da burocracia e da inércia humana.

Enalteçamos os julgamentos sérios a todos os cidadãos brasileiros e defenestremos todas formas de corrupção!

Quem viu a Constituição Federal sendo jogada no lixo, levante imediatamente de suas cadeiras e reanime o espírito democrático desse país, saliente a honra do brasileiro, retire a venda que esconde o rosto envergonhado da Deusa da Justiça para que todos sejam iguais perante a lei, e a cor branca seja símbolo de paz, e não dos colarinhos que emolduram aqueles senhores feudais. Que país é este, senhores?

Caso não queiram levantar a voz, sentem-se, e paguem seus impostos como um bom cidadão que o governo almeja. Meus caros, relembro Gonzaguinha, e relembro a vocês:

 É a gente não tem cara de panaca / a gente não tem jeito de babaca /
a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela.

Que daqui em diante toda lei seja interpretada a partir da nossa Constituição! E que cada decisão escolhida, cada rumo que iremos tomar seja em busca da felicidade, do bem-estar, do amor fraterno e da esperança de dias realmente justos.
Muito obrigado!

Leonardo Cunha Santa Brígida – 30/01/2013