quarta-feira, 30 de maio de 2012

Coleta Seletiva e novas práticas.

Tenho uma ideia simples de que podemos fazer muito no e pelo local onde vivemos, sem precisar de profundos investimentos e mexer com as finanças públicas. Basta uma vontade ética um pouco maior da que existe hoje e um pouco menos de burocracia para que a qualidade de vida não seja a musa inalcançável, mas pode ser o político que aperta nosso bolso nossa mão.
Vamos ao primeiro pensamento: a publicidade contratada pela Administração Pública é uma das maneiras mais discretas de usarem nosso dinheiro sem que levantem questionamentos de improbidade, basta não vacilar nos procedimentos licitatórios. Nesse aspecto, já tem algum tempo que circula pelas ruas da nossa cidade alguns caminhões, carrinhos, com logomarcas enormes de "Coleta Seletiva" ou "Coleta Seletiva de Entulho". Quanto terá sido esse vultuosos investimento para mostrar que onde há dinheiro há muita gente sendo paga? Ops, desculpem, qual terá sido o valor dessa publicidade para mostrar que onde há trabalho, tem homens trabalhando?
Tenho medo de que o Real - muito utópico, ultimamente - não esteja circulando por boas praças.
Entretanto, sabemos que o serviço deve ser feito e quem sabe não esteja, em suas finalidades, beneficiando cooperativas de catadores de lixo, ajudando pessoas que dependem da reciclagem do lixo! Qual o problema nisso?
Nenhum! Mas sabe o que penso? Em educação e unir o útil ao agradável, sem prejudicar o serviço de ninguém. Esse mesmo caminhão que circula por aí mostrando que a prefeitura trabalha, poderia mostrar o que é a coleta seletiva em seus adesivos; poderia mostrar à população como separar seu lixo, identificando o material a ser reciclado pelas cores.
Pronto! Surgiu uma ideia sem prejudicar ninguém e ainda ajudando na educação em um nível bem básico, mas carente por aqui. Tens alguma ideia também?


terça-feira, 29 de maio de 2012

A hipocrisia carnavalesca.

Não sou contra o carnaval. De jeito nenhum. A batucada afro corre no pulsar dos meus sangues, e por isso sou brasileiro. O termo 'carnavalesco' serve para demonstrar o que penso sobre determinadas manifestações.
Olhe só para suas praias e vejam o tamanho dos biquínis usados pelas mulheres e como houve mudança ao longo dos anos. Que se diminua ao máximo (ou mínimo?!) possível, mas não o tire!

Deus livre esse povo pecador de fazer um bronzeado sem as partes de cima da roupa de banho, seria um atentado à moral social. Entretanto, em fevereiro, desfilar com os egos turbinados, mostrar a assinatura de cirurgiões plásticos, é permitido. Os vizinhos preocupados com a moral coletiva não vão reclamar. Ou seja, topless tem endereço, lá pela Sapucaí.

Pois bem, feita essa ilustração passemos adiante.

Recentemente,uma figura tão antiga na popularidade global quanto o carnaval declarou ter sofrido abuso sexual . Logo após, surgiram diversas manifestações ao redor do país favoráveis à Xuxa e com o mesmo tom de coragem! Um tabu foi rompido por uma formadora de opinião, e diversos segmentos sociais compartilharam desse sentimento em uma nítida demonstração de solidariedade. Hoje, o tema será abordado pelo programa "Profissão Repórter", amanhã por alguma revista... em breve, mudanças na legislação e na resolução desses casos trágicos pelo Poder Público.

Não é legal romper padrões machistas, feministas, ultrapassados? Imaginem agora se o rei nacional se declarar deficiente físico o quanto não poderíamos evoluir no pensamento, no tratamento e no incentivo às políticas públicas em relação a deficientes físicos.

Pensem como mudaria o tratamento aos portadores de síndrome de down - ou qualquer síndrome -  se a mídia mostrasse que os famosos necessitam de condições adequadas para a digna qualidade de vida de seus pupilos.

E por aí vai com o trabalho escravo, a exploração infantil, a impunidade aos riquinhos, com a carteira de motorista do Thor...

Talvez mudemos alguma coisa quando mostrarmos mais a bunda e dermos a cara à tapa, e não o contrário.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um texto de 21/04/2008 quando estava nas minhas aulas de Redação, preparando-me para o vestibular. Boa leitura.


Português para o Brasil

            Sempre me relacionei bem com o povo e a comunidade do bairro onde moro. Meu linguajar simples, do dia-a-dia, permitia-me ter acesso aos bandidos, aos viciados e às donas-de-casa para conversar e tentar resolver seus problemas. Minha popularidade era enorme, e isso foi importante para que eu fosse eleito o “Vereador do povão”! Ainda não sei o que me elevou a tal patamar sócio-político: se o meu desprezo pelo plural (“Os político deve atender nossas exigência!”) ou  o meu neologismo interiorano (“As táuba daqui tão tudo chechelenta”).
            Agora, eu freqüentava um meio social mais elevado, cultural e economicamente, e precisava estar ali para defender os interesses dos meus eleitores. Abandonei a bermuda e o chinelo para vestir paletó e gravata, no entanto, minha rudez oral continuou a mesma. Precisava mudar, também, a roupagem do meu falar para acabar com o preconceito que girava ao meu redor e ter mais acesso à sala do governador para defender meus projetos.
            Matriculei-me em cursos de língua portuguesa, comprei livros e passei a estudar durante o dia, a tarde e à noite. Faltava um mês para a reunião e eu já me sentia orgulhoso por saber elaborar uma carta e usar em todas as minhas falas o “Vossa Excelência”!
            O “dia D” chegou e fui atendido no gabinete governamental por um assessor impaciente, que me recomendou ao Presidente da República. Meu problema era de nível nacional... eu estava lisonjeado!
            Estudei a Constituição, aprendi a conjugar os verbos e como escrever uma oração adverbial causal reduzida de gerúndio. O presidente também iria ter uma surpresa com o rebuscamento na linguagem de um simples caboclo do norte do país. Com o Aurélio embaixo do braço e o Armani sobre meus ombros, parti para Brasília em um aterrorizante pássaro voador feito de metal.
            Chegando ao Congresso Nacional, onde iria ser atendido, deparei-me com camisas desabotoadas, sapatos sujos e cuecas rasgadas trajando os trabalhadores daquele local que não usavam telefones para a comunicação interna, mas palavras de baixo calão pronunciadas aos berros pelos salões. Foi um susto, mas meu objetivo era o encontro com o sábio Chefe de Estado.
            Piscava no painel eletrônico – a forma mais civilizada de comunicação ali dentro – a senha 225. Minha vez! Entrei naquele majestoso gabinete onde havia no mínimo dez pessoas e lixeiras de luxo, porém meu olhar fixou-se naquele homem barbudo, com resquícios sutis de um líder sindical, para quem fui apresentar-me, de modo pomposo, e mostrar-lhe meu valoroso projeto estadual de educação primária.
            - Te senta aí rapaz. O que é essas coisas que tu traz aí? – indagou-me, naturalmente, o presidente.
            Fiquei abismado! Onde estava o plural? Por onde andava a concordância? E a ética, será que alguém viu? Parece-me que a língua portuguesa, assim como a ética, abandonou estes lugares... Mas se o povo gosta que falemos “ansim”, vamos continuar ganhando seus votos!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI


Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

EDUARDO ALVES DA COSTA
Niterói, RJ, 1936

Nota: Poema publicado no livro 'Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século', organizado por José Nêumanne Pinto, pag. 218.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O que deixamos.

Nesta primeira descrição de "Quem sou eu" esboço uma inquietude que me surge esses tempos. Detalho.
O egoísmo está em nossas entranhas, assim como a raiva, aquela vontade de matar alguém, o espírito competitivo, e estes são alguns elementos evolutivos que nos permitiram chegar onde estamos [?]. Por outro lado, temos também o amor e a esperança. Alguns escolhem o primeiro caminho, outros o segundo. É uma questão de deixar manifestar, mas todos somos bons e maus em nós mesmos. Às vezes melhor, às vezes pior...
Pois bem, o pensamento individualista me leva a crer que a vida ideal seria um mundo só meu, onde iria fazer tudo sem o habitual medo da sanção ou arrependimento. Todos querem esse tipo de posse, mas ninguém quer arcar com a solidão e a angústia de não poder culpar o próximo. Por isso, temos que saber lidar com a vida em sociedade.
Sociedade de quem? Tirania tá fora de moda. Democracia nem é tão boa assim, mas é o que a gente tem. [sobre conformismo, posteriormente]
E o que vamos deixar para os nossos filhos? O que vamos deixar para as gerações futuras?
Sonhos? Desejos de uma época que não volta? Ou vamos entregá-los frutas, animais, transporte público de qualidade, saúde, dignidade? Eu, já plantei a semente e estou regando com todos os cuidados possíveis. E seus filhos, brincarão nessa árvore ou serão sisudos como o mundo em que habitas?

Inaugurando

Um texto que enviei ao Diário do Pará certa vez:

Bela Cidade das Mangueiras. Tua referência nacional não transmite mais o sentimento de bucolismo, de ar puro como teus nostálgicos habitantes gostariam que fosse. Tão pouco mostras que não és mais detentora de frondosas árvores. Mas começas a dar passos retrógados e o cenário naturalístico é sinal de selvageria. Fato comprovado pela parcela da população “to nem aí” no que tange ao moralmente aceitável, ao socialmente esperado, ao ambientalmente sustentável. O pior nesse estágio de selvageria são os governantes que permitem nossa condição de sobreviventes ao invés de cidadãos de uma capital amazônica, construindo obras sem nenhum planejamento público, inserindo infra-estrutura nova em plena época do Círio, em que a cidade está abarrotada de turistas, que encontram o cenário caótico – agora agravado – do trânsito, da insegurança que somos obrigados a encarar diariamente. Perguntaria por quais ruas andariam nossos políticos, mas não acredito que eles estejam com os pés tão firmes na terra. Suas idéias e ações devem estar plainando em um espaço muito além da dura realidade.