terça-feira, 14 de agosto de 2012

Extra! Compre o medo e espalhe a violência.

Lembra quando os professores do ensino infantil perguntavam se líamos jornal em casa? 
Hoje, não incentivo ninguém a este tipo de leitura. 

Antes de parecer alienado ou preguiçoso, considero-me político. Não no sentido partidário, pois se assim fosse poderia muito bem optar por um dos dois melhores e maiores jornais da região norte. Mas de participar da vida de minha cidade e não de sua morte.

Manchetes diárias - e até no domingo, quando você leria o jornal em âmbito mais familiar - derramam sangue pelas páginas, fazendo os editores escorregarem os dedos nos teclados e produzirem os textos mais abominantes, em sentido e em gramática.

Como posso querer ler jornal se nem conjugação verbal está sendo aplicada? E ainda querem nos dar dicas de como passar no ENEM e outros concursos públicos...

Parece atrativo a desgraça alheia, a bala perdida encontrada por um desavisado, a separação, as notícias da Casa mais badalada do Brasil! Não, não! Nada de Casa Civil, é o BBB mesmo, com seus heróis e suas musas!

Não merece o meu respeito um jornaleco que manda um repórter perguntar como se sente um pai ao ter acabado de perder seu filho pelas mãos de um assaltante! Não merece ser lida uma notícia que lhe mostra o passo-a-passo - atualizado - de como se comportar em um sequestro! 

Quem criou essa mídia desconcertada? Os romanos distraíam sua população com espetáculos sangrentos, e fazemos o mesmo sem sentir o cheiro de carne podre, apenas a podridão dos editoriais.

Será que a imprensa só atua assim porque a população demanda? Ou a mídia nos mostra qual é a nossa necessidade?

Lendo um artigo (Democratização pelos "mass media"? - Airton Cerqueira-Leite Seelaender), encontrei respaldo para essas indagações: “Rebaixada ao nível de uma novela centrada em conflitos pessoais, a política adquire as feições de um espetáculo curioso, no qual o êxito dos atores depende sobretudo da qualidade de seu desempenho segundo os parâmetros televisivos – a imagem e o domínio da câmera tornam-se essencial. Não é por outra razão que se multiplica, hoje em dia, o número de líderes políticos egressos do cinema, a ponto de ex-atores se converterem em referência política na Índia e chegarem mesmo a ocupar cargos como a presidência dos Estados Unidos e o governo da Califórnia.”

Nem vou tão longe, para saber que "pior do que tá não fica".  Fica sim! Pois quando o indivíduo aceita com comodismo e descrença as atitudes públicas, perde seu caráter de civilidade, deixando de reclamar e tomar decisões que ordenem sua pólis! Sejamos cidadãos! Ou acreditamos na mídia, que nos chama de cidadãos pelo simples fato de portarmos uma certidão civil, mas não permite que sejamos ouvidos, nos engana com crueldade e nos fomenta o medo e a intolerância.

Ou podemos também acreditar em nós mesmos! E perceber que o inimigo não está por fora de nossas cercas elétricas e câmeras de segurança.... está bem próximo, em cima do sofá, esperando que você suje seus dedos com uma tinta coagulada.







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